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Você Sabe Citar Mulheres que admira?

  • Luan Vieira
  • 15 de jun.
  • 5 min de leitura

Recentemente, viralizaram nas redes sociais vídeos em que homens eram convidados a citar três mulheres que admirassem de forma não sexualizada. A maioria não conseguia responder. Alguns hesitavam, outros se esforçavam muito para lembrar ao menos um nome. Quase ninguém chegou a três.


Fiquei surpreso. Talvez porque tive uma mãe que saiu de “lugar nenhum”, uma pequena cidade do interior do Pará, chamada Capanema, para empreender em São Paulo. Uma irmã forte e pioneira, a primeira da família a acessar uma educação de qualidade, que se formou sargento da aeronáutica e passou cinco anos defendendo a fronteira do Brasil. Talvez, porque tenho hoje ao meu lado uma companheira maravilhosa que escolheu enfrentar o mundo de peito aberto para caminhar junto comigo.


Talvez por isso nunca tive dificuldade em admirar mulheres, ganhar menos do que elas, reconhecer que sabem mais ou que são mais capazes. Para mim, sempre foi óbvio: capacidade, caráter e personalidade não têm gênero. Existem mulheres boas porque existem pessoas boas — e há mulheres excepcionais porque há pessoas excepcionais.

Mas aí está o ponto: quando pedem para citarmos figuras de destaque — em arte, filosofia, política, ciência — geralmente lembramos de Da Vinci, Platão, Napoleão, Einstein. O que todos tem em comum? Não é porque só existam homens notáveis, mas porque, por muito tempo, o acesso ao conhecimento formal foi negado às mulheres. Por séculos, foram vistas como frágeis, passionais, úteis apenas à procriação e excluídas da construção do saber.


Com a modernidade, uma das grandes conquistas sociais foi a emancipação da mulher. Elas passaram a estudar, trabalhar, produzir, liderar, transformar. Hoje, vivem e atuam em todos os campos do conhecimento e profissional. Por isso, é inaceitável que, em pleno século XXI, ainda existam pessoas que não consigam lembrar de três mulheres que admiram. Isso não fala sobre a ausência de mulheres admiráveis. Fala sobre o quanto ainda precisamos reeducar o olhar.


Então, basta reduzirmos a escala temporal para a era moderna que torna-se fácil lembrar de nomes como Tarsila do Amaral, Hannah Arendt, Margaret Thatcher, Madame Curie — mulheres que se destacaram e deixaram legado em campos como arte, filosofia, política e ciência. Ainda assim, reconheço que essas figuras podem parecer distantes da realidade cotidiana, especialmente para as camadas mais populares da sociedade. O acesso ao conhecimento e à história continua sendo, infelizmente, desigual.


No entanto, mesmo no universo da cultura pop — mais acessível e presente no dia a dia — não faltam mulheres que podem ser referência em seus campos de atuação: Anitta, que transcendeu as barreiras do entretenimento e se tornou empresária global; Marta, a maior jogadora de futebol de todos os tempos, seis vezes melhor do mundo; Dilma Rousseff, que chegou à Presidência da República após resistir à ditadura e vencer preconceitos.


Enfim, não para por aí, os nomes são diversos e oferecem uma riqueza de história e pensamentos. Da minha parte, se me perguntassem hoje quais são minhas três maiores referências femininas, eu responderia sem hesitar: Simone Biles, Clarice Lispector e Fernanda Montenegro. Simone, pela absurda dedicação e pelos resultados históricos no esporte, enfrentando não só a gravidade, mas também o peso psicológico. Clarice, pela sua profundidade existencial e um ceticismo lírico que desarma qualquer um. Fernanda, pela sua voz magnânima e presença cênica incomparável, que marcou de forma definitiva a história da atuação no Brasil.


A questão é que essas são as minhas preferências. Agora, escolha as suas. Só não passe a vergonha de dizer que não sabe o nome de nenhuma mulher que te inspire. E mais do que isso, não perca a oportunidade de conhecer a vida e a obra de pessoas absolutamente incríveis em seus respectivos campos de atuação. Isso vai muito além de ser um discurso inclusivo é sobre enriquecer seu próprio repertório. Ver o documentário “Simone Biles Rising” disponível na Netflix, vai ampliar sua visão de quanta abnegação é necessária para a alta performance. Ler “A Hora da Estrela” vai te provocar empatia e te fazer refletir sobre a grandeza de uma vida comum. E assistir, ou ouvir Fernanda Montenegro é inexoravelmente uma graça, uma mulher potente que com um olhar atua, e te leva para aquele universo cênico. Nunca vi, li ou assisti ninguém igual. GOAT’s!


E não se limite ao lúdico, profissionalmente também é importante encontrar referências femininas. Eu, escolhi a engenharia elétrica, na minha sala, havia três mulheres em um universo de cem homens. Fiz amizade com as três e mantenho contato com duas até hoje. Elas eram melhores do que eu, aprendi muito e aprendo até hoje. Tive aula particular de Qualidade de Energia com uma, Cálculo 3 com a outra e estudamos juntos até o final da graduação. Quando me formei temia ingressar em um mercado de trabalho tão desigual, onde 97% das pessoas eram de um gênero só. Para minha surpresa, tive a sorte de ingressar em um dos poucos setores do mundo corporativo onde lideranças femininas se destacam com consistência. Nesse contexto, para fazer jus ao meu argumento, e te ajudar nessa jornada, além de citar mulheres que admiro na vida, gostaria de citar três mulheres que admiro profissionalmente, cujas trajetórias se confundem com a própria evolução do setor elétrico:


Fabíola Sena, com um currículo notável — incluindo passagens por Engie e Statkraft — hoje lidera, junto às suas sócias, a plataforma Head Energia, que vem revolucionando a forma como se comunica e se pensa o setor. O conteúdo é de altíssimo nível, com uma didática ímpar e até uma pitada de humor. Sou aluno e assinante desde 2021 e devo muito do meu conhecimento a ela e suas sócias.


Camila Maia, jornalista da MegaWhat, foi presença diária na minha rotina. Seus podcasts me acompanharam como uma espécie de café da manhã regulatório: claros, profundos e indispensáveis para quem quer entender o setor com seriedade.


Juliana Melcop, sócia da área de Energia do Veirano Advogados e cohost do meu programa favorito no setor — o podcast Iluministas — tem sido uma referência na articulação entre direito, energia e futuro. O programa, aliás, propõe uma discussão necessária: qual é a matriz elétrica ideal para o Brasil nas próximas décadas?


Logo, se você é do setor, precisa conhecê-las, tenho certeza de que vai aprender muito, se manter atualizado e até mesmo ter uma visão de futuro estratégica para o Brasil. Sua carreira será outra com essa bagagem, isso eu tenho certeza! A minha foi.

Este não é um texto para me autopromover, fazer média ou me exibir. Tampouco para julgar aqueles — ou aquelas — que ainda não têm referências femininas. É um aviso. Um alerta. Melhor, um convite. Conhecer essas pessoas, essas histórias e essas obras irão engrandecer a sua experiência de vida, enriquecer o seu repertório e melhorar a sua percepção, você não sabe o que está perdendo.


E como sei que não tenho a capacidade de encerrar um texto como algumas mulheres que admiro, deixo aqui um aperitivo — um presente da Clarice à literatura e, de mim, a você:


“Renda-se, como eu me rendi.

Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.

Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.”— Clarice Lispector, A paixão segundo G.H.

 


*Luan é engenheiro eletricista pela Universidade Federal de Itajubá, analista de energia e aluno da Head Energia.

 
 
 

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