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  • Frederico Freitas

O Brasil precisa assumir o seu protagonismo no mercado de Hidrogênio Verde

Atualizado: 14 de abr. de 2022


Durante o ano de 2021, anúncios de grandes projetos para produção de Hidrogênio Verde, dominaram as manchetes das mídias especializadas em cobrir os avanços do Setor Elétrico Brasileiro.


Memorandos de Entendimento assinados, abriram oportunidades e o início do desenvolvimento dos hubs de Hidrogênio Verde no Porto de Pecém (CE), no Porto de Suape (PE) e no Porto de Açu (RJ). As estimativas iniciais ultrapassam a cifra de bilhões de dólares de investimentos e aquecem o mercado brasileiro e mundial.


Do ponto de vista acadêmico, o Brasil desenvolve há quase duas décadas, estratégias de P&D para o mercado de Hidrogênio, neste sentido cabe destacar o Programa Brasileiro de Hidrogênio e Sistemas Células a Combustível, lançado no ano de 2002 e o Plano de Ciência, Tecnologia e Inovação para Energias Renováveis e Biocombustíveis 2018-2022, ambos liderados pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).


Os agentes do setor elétrico também patrocinaram importantes iniciativas, citando como exemplo um Projeto de Mobilidade Urbana em São Paulo, executado entre 2005 e 2015, que desenvolveu um protótipo e três outros ônibus coletivos, operando com célula combustível a hidrogênio, que circularam em um corredor metropolitano de São Paulo. Esse projeto teve participação do Ministério de Minas e Energia (MME), da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU/SP) e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).


Cabe registrar também outras iniciativas, voltadas para o mercado de Hidrogênio, desenvolvidas por meio de fundos de P&D públicos ou publicamente orientados do Brasil, como por exemplo: P&D ANEEL, P&D ANP, FNDCT, FINEP, FAPESP, CNPq, FAPERJ entre outros.


Ainda no ambiente de P&D, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) emitiu a Resolução CNPE nº 02, de 10/02/2021 orientando os agentes setoriais a priorizarem a destinação de recursos de P&D para áreas de transição energética, listando como prioridade número 01 o Hidrogênio.


Entretanto, os desafios de contenção do aumento da temperatura média global em no máximo 2ºC acima dos níveis pré-industriais, firmados no Acordo de Paris em 2015, a necessidade urgente de promover uma transição energética global voltada para uma economia de baixo carbono e a oportunidade de se promover uma retomada econômica global, em um cenário pós pandemia (COVID-19), estão demandando celeridade na implementação de projetos de Hidrogênio Verde em escala comercial e/ou industrial.


A busca por viabilidade comercial de projetos de Hidrogênio Verde pode ser entendida por dados vindos do Hydrogen Council, entidade que reúne CEOs de 92 empresas globais. Suas estatísticas estimam que o Hidrogênio Verde responderá por quase 20% da demanda de energia no mundo até 2050, com um mercado estimado em US$ 2,5 trilhões e potencial de gerar 30 milhões de empregos.


Neste cenário, fica evidente que a agilidade na tomada de decisão é fundamental para definir quais nações terão protagonismo neste novo modelo econômico que está se configurando.


Temos todas as condições para assumir a liderança mundial na produção deste vetor energético. Por definição, o Hidrogênio Verde pode ser obtido pela eletrólise da água, por biomassa, ou biocombustíveis (leia-se etanol ou biogás). Temos abundância de todos esses recursos renováveis, o que facilita a produção em grandes escalas.


Entretanto, enquanto o Brasil ainda discute diretrizes e questões técnicas/científicas do Plano Nacional de Hidrogênio (PNH2) e submete à Consulta Pública o PDE 2031, com um capítulo exclusivo para o mercado de Hidrogênio, ainda insistindo na produção de Hidrogênio “Cinza” com utilização de combustíveis fósseis, nossos vizinhos sul-americanos já perceberam a forte demanda de países desenvolvidos pelo Hidrogênio Verde e deram a largada.


O Ministério de Energia do Chile já desenhou claramente a sua estratégia baseada na substituição do hidrogênio fóssil nas refinarias do país e novas aplicações no transporte de longa distância e de carga pesada. O sol do deserto do Atacama e os ventos do Estreito de Magalhães, no extremo sul chileno, serão os responsáveis por gerar a energia renovável necessária à produção de Hidrogênio Verde. A meta chilena é chegar a 25 GW de capacidade de eletrólise até 2030.


Já o Governo da Colômbia, apoiado pelo Banco Inter Americano de Desenvolvimento (BID), definiu como estratégia desenvolver entre 01 GW e 03 GW de capacidade energética a ser utilizada em eletrolisadores de produção Hidrogênio Verde até 2030. O norte colombiano, tem grande potencial fotovoltaico devido à sua proximidade com a linha do equador sem grandes variações de irradiação solar durante o ano.


A Colômbia também criou uma lista com 66 itens de bens e serviços elegíveis a incentivos fiscais. Basicamente são itens necessários para produção de Hidrogênio Verde incluindo: acondicionamento, armazenamento, distribuição, serviços como engenharia e design, fornecimento, instalação e operação, estudos de pré-viabilidade e viabilidade e obras de construção civil.


Nos casos Chileno e Colombiano, fica evidente a atuação rápida e ágil do Poder Público como agente “orquestrador” na configuração dos seus Planos Nacionais para o novo mercado de Hidrogênio Verde. Isto fica evidente na clareza das estratégias, definindo inclusive as regiões de exploração de energias renováveis bem como metas estabelecidas de capacidade energética para alimentação de eletrolisadores.


No caso Brasileiro, apesar de termos duas décadas de produção científica sobre o tema, um setor privado que se movimenta isoladamente para viabilizar HUB´s de Hidrogênio Verde, ainda não é possível perceber os Agentes do Setor Elétrico Brasileiro assumindo o protagonismo e a condição de “orquestradores” deste novo mercado que se desenha.


Iniciado em abril de 2021, pela Resolução CNPE nº 06, que temos até o momento são “Propostas de Diretrizes” para um futuro Plano Nacional de Hidrogênio (PNH2) e sequer temos um horizonte para se iniciar o debate sobre um Marco Regulatório para o setor.


Para não perdermos esta oportunidade, precisamos abandonar o comportamento tradicional e os velhos preconceitos.


Ingressar na economia de baixo carbono significa, antes de tudo, estar aberto à novas ideias e conceitos disruptivos.


Faz-se necessária uma visão sistêmica de como funciona o universo das energias renováveis, sendo fundamental inserir o Hidrogênio Verde na agenda dos gestores e agentes públicos do Setor Elétrico Brasileiro.




Referências Bibliográficas:



2) Hoja de ruta del Hidrógeno em Colombia:


3) Propostas de Diretrizes para o Plano Nacional de Hidrogênio (PNH2) no Brasil:


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